terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Discurso sobre a vagem


As vagens inspiradoras
Hoje eu estava passando minha habitual vergonha de ir ao sacolão e lotar o carrinho com todos os vegetais possíveis de Abacate a Vagem e, justamente enquanto escolhia vagens, surge um menino de uns 8 anos e pergunta para a mãe:
- Mãe, isso aqui é vagem?
- É sim, filho.
- Posso abrir uma só pra ver como é por dentro?
Neste momento, eu pensei: só pode ser pegadinha. Como esse menino não sabe o que é vagem? Querem ver se a japa ia se meter na conversa maluca. Fiquei mesmo com vontade de falar: que tal se a gente te abrisse só pra ver como é por dentro? Mas a mãe deixou o menino levar seu experimento científico adiante:
- Essa bolinha no meio é igual a alface?
- Não, isso aí é igual ao feijão.
- E gosto é bom?
- Não sei...
E falou outras coisas que eu não consegui ouvir porque eles foram andando em outra direção e também porque meu coração fez barulho se quebrando: o menino estava mais do que claramente interessado em experimentar esse legume e a mãe não deu cedeu. Quase sai atrás deles falando: vai lá na casa da tia Sarah experimentar refogado de batata, cenoura e vagem, é uma delícia!
Enquanto eu terminava de pegar todos os verdes que queria, não consegui parar de pensar nessa cena da vagem.
Primeira coisa, sempre achei que nutrição deveria ser ensinada na escola, assim como finanças. Eu nunca precisei calcular a área de um heptágono depois que saí do ensino médio e também nem lembro mais como acontece uma mitose, mas me alimento e pago contas todos os dias. Como uma pessoa que entra no sacolão para comprar sorvete (caro) vai dar oportunidade para o filho de criar bons hábitos alimentares? Ele é menor de idade e ela é responsável pela alimentação dele, entre outras coisas. Como alguém pode ensinar ao filho algo que não sabe? Trouxe um punhado de vagens para casa por R$ 0,70, menos de um real! Preço não é desculpa! Nem precisa ser chef de cozinha para cozinhar vagem, mas para quem não sabe, eu que não sou chef ensino aqui.
Segunda coisa, como eu tive sorte em ter uma mãe que sempre fez legumes em casa. Hoje eu também faço legumes para minha filha e se ela estivesse comigo no sacolão poderia dizer ao menino: vagem eu até como mas eu gosto mesmo é de couve! haha
Terceira coisa: nesse mesmo sacolão da história de hoje, há uns 3 ou 4 anos, uma senhora estava levando um saco enorme de vagem para casa. Ela me contou que come arroz com vagem todos os dias, que é a coisa que ela mais adora. Ok, respeito o gosto dela, mas o que mais me encanta nos vegetais é a variedade de sabores que eles trazem para as refeições. Eu não como arroz e feijão todo dia, que tédio! Um dia é arroz, no dia seguinte é batata doce, e no outro dia é mandioquinha, e no outro pode ser abóbora. Ou qualquer coisa que estiver na época. Novidade faz parte da vida!
Quarta coisa: já vi várias pessoas que me criticavam por pedir pizza de abobrinha (ou outras verdices) receberem um cartão vermelho da saúde, aquele médico que diz: ou você come melhor ou seu corpo não vai aguentar. Nunca torci para que isso acontecesse, mas é difícil não pensar "eu tentei te avisar" todas as vezes que isso acontece. E o que vejo é que depois de décadas comendo errado, é mais difícil mudar e desapegar dos hábitos antigos. Por isso que é melhor aprender desde cedo! Claro que ninguém sai do junk food para a naturebice de um dia para o outro, são várias etapas e cada melhora na alimentação gera alguma melhora na saúde. Não é por vaidade ou por medo de engordar. Uma barriguinha menor é conseqüência dessa alimentação saudável, mas não é uma meta.